terça-feira, 13 de março de 2007

A verdade sobre o solo Amazônico

O mito da fertilidade
A idéia de que o solo amazônico é fértil, diz a revista Counterpart, é um "mito difícil de extinguir". No século 19, o explorador Alexander von Humboldt chamou a Amazônia de "celeiro do mundo". Um século depois, o presidente americano Theodore Roosevelt também achou que a Amazônia prometia boas safras. "Uma terra tão rica e tão fértil não deve permanecer ociosa", escreveu.
Na verdade, o lavrador que pensa assim como eles pensavam descobre que, por um ano ou dois, a terra produz uma boa safra, pois as cinzas das árvores e das plantas carbonizadas servem de fertilizante. Mas, depois disso, o solo fica estéril. Embora o verde exuberante da mata pareça indicar a existência de um solo fértil, o solo é, na verdade, o ponto fraco da floresta. Como assim?
Despertai! falou sobre isso com o Dr. Flávio J. Luizão, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, especialista em solo de floresta tropical úmida. A seguir, alguns de seus comentários:
‘Diferente de muitos outros solos de floresta, a maior parte do solo da bacia amazônica não recebe nutrientes a partir de sua base, de rochas em decomposição, pois a rocha-mãe é pobre em nutrientes e profunda demais. Em vez disso, o solo recebe nutrientes de cima para baixo, da chuva e do húmus. Contudo, tanto as gotas de chuva como as folhas caídas precisam de ajuda para se tornarem nutritivas. Por quê?
‘A chuva que cai na floresta não é muito rica em nutrientes. Mas, ao atingir as folhas e escorrer pelos troncos das árvores, ela recolhe nutrientes das folhas, dos galhos, dos musgos, das algas, dos formigueiros, do pó. Quando essa água se infiltra no solo, já se transformou num bom alimento para as plantas. Para que esse alimento líquido não escoe simplesmente para os córregos, o solo detém os nutrientes, por meio de um emaranhado de raízes finas dispostas numa camada de vários centímetros debaixo da terra. Uma prova da eficácia disso é que os córregos que recebem essa água da chuva têm conteúdo nutritivo ainda mais pobre do que o próprio solo da floresta. Assim, os nutrientes penetram nas raízes antes que a água entre nos córregos ou nos rios.
‘Outra fonte de alimentos é o húmus — folhas, raminhos e frutos caídos. Cerca de oito toneladas de excelente húmus se forma por ano num hectare de piso florestal. Mas, como é que esses resíduos penetram no solo até o sistema de raízes das plantas? Os cupins ajudam. Eles cortam pedacinhos de folha em forma de discos, e os carregam para seus ninhos subterrâneos. Especialmente durante a estação chuvosa, eles formam um grupo laborioso, levando para o subterrâneo espantosos 40% de todo o húmus. Ali, eles usam as folhas para construir canteiros para o cultivo de fungos. Esses fungos, por sua vez, decompõem a matéria vegetal e liberam nitrogênio, fósforo, cálcio e outros elementos — nutrientes valiosos para as plantas.
‘O que é que os cupins ganham com isso? Alimentos. Eles comem os fungos e talvez engulam também uns fragmentos de folhas. Daí, os microorganismos nos intestinos dos cupins se encarregam de transformar quimicamente o alimento dos cupins, de modo que o excremento desses insetos vira um alimento nutritivo para as plantas. Portanto, a chuva e a reciclagem de matéria orgânica são dois dos fatores que sustentam e fazem crescer a floresta tropical úmida.
‘É fácil ver o que acontece se você derruba e queima a floresta. Desaparecem a copa para interceptar a chuva e o húmus para reciclar. Em vez disso, as chuvas torrenciais batem forte no solo desnudo, e seu impacto endurece a superfície. Ao mesmo tempo, os raios solares que atingem diretamente o solo aquecem e compactam o terreno. Com isso, as águas da chuva escorrem com facilidade, alimentando os rios, em vez de o solo. A perda de nutrientes de terras desmatadas e queimadas pode ser tão grande que os cursos de água perto dessas terras chegam a sofrer de excesso de nutrientes, pondo em risco a vida de espécies aquáticas. Obviamente, se deixada em paz, a floresta sustenta a si mesma, mas, a interferência do homem prenuncia desastre.’

fonte: revista "Despertai"

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