quinta-feira, 14 de junho de 2007

A arte de ler o terreno

Existe uma técnica da qual pouco ou nada se ouve falar, e que tem uma importância enorme no desempenho de qualquer biker seja nas trilhas ou nas estradas. Uma técnica que o tempo e a experiência ajudam a desenvolver e refinar, mas que com um pouco de atenção e prática pode ser aprendida rapidamente e vai certamente dar uma “turbinada” na sua performance. Aprenda a “ler” o terreno.
Quando estamos começando a pedalar e descobrimos a paixão pela bicicleta, geralmente somos levados por nós mesmos e pelos outros a dar mais importância à alimentação e ao desenvolvimento da técnica. Frenagem, saltos, uma pedalada mais redonda, o que, quando e como comer corretamente são os tópicos mais abordados quando se fala em treinamento. Por causa disso, há dezenas de fontes de informação sobre esses assuntos. Mas ler o terreno por onde pedalamos é a técnica oculta que separa o bom biker do melhor biker.

As vantagens:
Intuitivamente somos levados a desviar de buracos e obstáculos, seja na trilha ou na estrada Até mesmo por uma questão de sobrevivência. Mas ler o terreno significa ir um passo além. Como a bike depende da nossa força para ir para frente e se manter em pé, escolher o melhor local para colocar as rodas de sua bicicleta pode melhorar sensivelmente a performance.

Economize energia:
Grama, areia, barro ou pedras exigem mais força aplicada aos pedais para manter a bike em pé e você pedalando. Além disso, como a velocidade é menor nesses terrenos, as vezes é necessário levantar o selim e usar o famoso “jogo de corpo” para não perder o equilíbrio, o que gasta ainda mais energia. Parece pouco, mas numa pedalada pode significar a diferença entre chegar pedalando ou ter que empurrar no final. Nunca subestime o valor da energia economizada sobre a bike!

Evite os tombos:
Entrar numa curva ou tentar brecar em cima da faixa de pedestres com piso molhado, ou numa trilha com limo sobre terra é tombo na certa. Tudo bem, alguns bikers têm uma técnica e sensibilidade tão apurada que conseguem se sair bem dessas situações. Mas existem limites impostos pela lei da física (atrito, velocidade, inclinação...). Sabendo identificar pontos de perigo em potencial você pode salvar sua pele – literalmente.

Otimize as frenagens:
Muito se fala da potência dos freios. Cantilever, v-brake, freio a disco... a verdade é que uma boa frenagem, depende de três fatores: a) A correta regulagem dos freios (qualquer que seja o tipo); b) Os pneus (seus pneus estão em ordem? São adequados para o tipo de terreno em questão?); e pó fim c) As condições do terreno. Saber encontrar tração para que os pneus possam morder o terreno é importante.

Melhore as curvas:
Aqui também o fator pneus vs terreno é fundamental para uma boa performance nas curvas. De novo as leis da física ditam os limites da tração, e saber antecipar esses limites numa curva, seja na curva ou na estrada, pode ajudar a traçar - e realizar – a melhor opção dentre as inúmeras oferecidas.

Retarde o cansaço e a fadiga:
É comum ver bikers bem preparados e treinados abandonarem competires mais duras e exigentes, como o Iron Biker. Falta de pernas? Acabou o gás? O pulmão encolheu? Mesmo que a resposta seja sim para essas perguntas, você já parou para pensar na relação do terreno com esse desgaste? As costas doem, os braços começam a formigar, e o ri timo cai drasticamente. Aqui também o que acontece é um desgaste generalizado do corpo pela repetição de milhares de pancadas e vibrações transmitidas ao corpo durante as pedaladas. Na estrada ou na trilha estamos expostos a essas vibrações e o efeito acumulativo pode ser sentido depois de uma ou duas horas, às vezes menos. É impossível evitar completamente esse ataque que leva a fadiga e acelera o cansaço. Nem com as melhores suspensões, muito treinamento e ginástica. Não existe asfalto perfeito (pelo menos aqui no Brasil), e as trilhas, bom, não seriam trilhas se fossem assim. Mas podemos economizar um pouco sabendo evitar alguns trechos mais desgastantes para o corpo. O resultado pode ser sentido na prática.

Usando o cérebro:
É difícil, senão impossível, substituir a experiência no aprendizado de uma técnica. A primeira e mais importante regra é: olhe para onde você quer ir, e não para o que você quer evitar. Pode parecer estranho, mas nosso cérebro comanda nossos movimentos a seguirem o olhar. É como uma mira ou algo assim. Se você está numa descida assustadora numa trilha nova, procure sempre olhar para o melhor caminho, nunca dentro daquela erosão enorme, profunda, cheia de pedras e dentes, louca para engolir você e sua bike ao menor vacilo.
A segunda regra, não menos importante do que a primeira, é: ”olhe sempre adiante, nunca para o trecho imediatamente à frente de sua roda dianteira. E quanto maior a velocidade, mais adiante se deve olhar. Seus olhos são como radares,. Vasculhe o terreno, identificando obstáculos sem se preocupar muito com eles. Nosso cérebro grava e processa sozinho as informações, e se você seguir direitinho a primeira regra, ele ainda comanda seus movimentos para evitar apuros. Afinal, para ele, o mais importante é a sobrevivência. Esse é um princípio valioso que quando praticado acelera o desenvolvimento dos reflexos e melhora a intuição.
Seja subindo, no plano ou descendo, é preciso tomar cuidado nas curvas e frenagens, independente do pneu que está usando. Antecipe a frenagem e reduza a velocidade com leves toques nas manetes, usando mais força no traseiro pois, em caso de derrapagem é mais fácil controlar a traseira do que a dianteira. Pelo mesmo motivo, evite inclinar a bike demais ou fazer movimentos bruscos com o guidão, mantendo seu corpo mais perpendicular ao chão e fazendo a curva da forma mais suave possível.
Atenção total para trechos de solo “traiçoeiro”, como atoleiros, leitos de areia ou pedras, barro e lama ou ainda raízes. Sobretudo em curvas de alta velocidade. O comportamento da bike fica estranho nesses tipos terrenos, pois a tração é diferente devido ao peso e ao torque das pedaladas. Antes de encará-los, reduza a velocidade e transfira um pouco mais de peso para a traseira, aliviando a dianteira e mantendo o centro de gravidade de seu corpo solto para que ele se adapte automaticamente as mudanças de movimentos da bike. Mais energia deve ser aplicada no guidão para fazer correções de direção.
Nas subidas, descidas e curvas procure identificar a linha que oferece a melhor tração. Nas subidas esse procedimento evita que o pneu gire em falso e que você perca o equilíbrio. Nas descidas ajuda a manter o controle nas frenagens e curvas. Tente encontrar o melhor equilíbrio entre tração e baixa resistência à rolagem. Pode parecer difícil mas, a gente não desiste e continua tentando.
fonte: Alex Torres (Revista Bice Sport)